A duas vertentes da fala poética de Francisco Viana

A terra, o amor e o canto num tempo <i>ainda acorrentado</i>

Domingos Lobo

A po­esia com­pro­me­tida, he­rança nossa de um certo re­a­lismo francês – en­ga­ja­mento re­e­di­tado pelo Sartre, o qual foi, de certa forma, res­pon­sável (graças ao Maio/​68) pelo en­qua­dra­mento ide­o­ló­gico da ge­ração neo-re­a­lista de 1960, a que foi à guerra e no-la contou, es­tu­pe­facta, em prosa e verso –, ainda é pos­sível hoje, em Por­tugal?

Ao ler os po­emas de Fran­cisco Viana re­cordo-me de um verso de Raul de Car­valho, re­fe­rindo-se a Álvaro de Campos – tudo aquilo era de­ma­siado meu para ser dele

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 Re­cen­te­mente, a morte roubou-nos Fran­cisco Viana.
O Avante! re­lembra, hoje, o ca­ma­rada, o amigo, o poeta.

Fran­cisco Viana aderiu ao PCP em me­ados da dé­cada de 40, pas­sando desde logo a de­sen­volver in­tensa ac­ti­vi­dade par­ti­dária, de­sig­na­da­mente em or­ga­ni­za­ções uni­tá­rias an­ti­fas­cistas: pri­meiro no MUNAF, de­pois no MUD e, mais tarde, na CDE e no apoio às fa­mí­lias dos presos po­lí­ticos.

Ao longo de dé­cadas, a sua casa foi ponto de apoio de fun­ci­o­ná­rios clan­des­tinos do Par­tido.

Em 1962, na sequência do his­tó­rico 1.º de Maio, foi preso pela PIDE.

Após o 25 de Abril, e até que a saúde lho per­mitiu, pros­se­guiu a sua ac­ti­vi­dade par­ti­dária, com a mesma en­trega de sempre.

Pu­blicou dois li­vros de po­emas: «Naipe de Be­soiros» (1965) e «Chão Nosso» (1966), que o afir­maram como um grande poeta.

De­pois do 25 de Abril es­creveu, para o Tro­vante, os ex­ce­lentes po­emas que Do­mingos Lobo trata no texto que se segue.

Foi, ainda, autor dos po­emas para um es­pec­tá­culo do «Fado de Abril», no qual se con­tava a his­tória da luta do povo da­quela «al­deia ver­melha», desde o início do sé­culo até à cons­trução da Re­forma Agrária.

Esta de­mo­cracia atraiçoa os ideais da Re­vo­lução, es­creveu En­gel­mayer, numa aná­lise à po­esia de José Afonso, re­fe­rindo-se à de­mo­cracia bur­guesa saída, a partir de vá­rios golpes contra-re­vo­lu­ci­o­ná­rios e de uma for­tís­sima in­ge­rência in­ter­na­ci­onal, das pri­meiras elei­ções pós Abril de 1974. Hoje, com o ne­o­li­be­ra­lismo ins­ta­lado, ufano e con­ven­cido, 38 anos após essa manhã de es­pe­rança e jú­bilo, a frase de En­gel­mayer ganha uma evi­dência que, então, em 1975, ainda não adi­vi­nhá­vamos, em toda a sua per­versa e trá­gica di­mensão.

Edu­ardo Pitta, em texto crí­tico pu­bli­cado na re­vista Ler, cor­ro­bora esta afir­mação, em­bora por ín­vios ca­mi­nhos, ao dizer-nos que as co­or­de­nadas da ac­tual lí­rica por­tu­guesa va­gueiam longe das pre­o­cu­pa­ções so­ciais, que há ou­tras ur­gên­cias ide­o­ló­gicas e es­té­ticas (que acom­panha a cres­cente e de­su­mana glo­ba­li­zação ne­o­li­beral) e que os cul­tores da po­esia que re­flecte o pulsar do seu tempo, de co­mu­nhão com a vida, a po­esia que se in­quieta e in­digna, es­tarão, talvez ir­re­me­di­a­vel­mente, con­de­nados ao os­tra­cismo. Acon­teceu com Ary dos Santos porque, se­gundo Pitta, as ir­re­ve­rên­cias, em país manso, pagam-se caras e só não acon­tece, por en­quanto, com Ma­nuel Alegre graças aos deuses do poder que lhe vão con­ce­dendo pro­tecção e algum pro­ta­go­nismo me­diá­tico. Por­tanto, a ge­ração que re­sistiu ao fas­cismo, que viveu clan­des­tina no seu pró­prio país, que so­freu as tor­turas, a fome e as pri­sões do re­gime, que andou pelas guerras co­lo­niais e pelos maios pa­ri­si­enses e nesse ato­leiro ainda lhe so­bejou es­forço e arte para cons­truir uma poé­tica que ex­pres­sava os medos e as in­qui­e­ta­ções do seu tempo, que con­tri­buiu, com a pa­lavra cer­teira e re­volta, para o zarpar da pata fas­cista, per­mi­tindo, ge­ne­ro­sa­mente, que a li­ber­ti­nagem pós-mo­derna se ins­ta­lasse do­mi­na­dora, dis­cri­ci­o­nária e exul­tante, que se cuide e male a trouxa. Os câ­nones da ac­tual vaga, un­gidos por este nosso des­gra­çado tempo e pelos pres­su­rosos media de ser­viço, são ar­ro­gantes e to­ta­li­tá­rios e quem não ali­nhar está fora da borda sem re­misso nem cân­tico final.

Longe pa­recem ir os tempos em que José Gomes Fer­reira afir­mava, exal­tante e cer­teiro, que os po­etas só têm uma missão: can­tarem o Pre­sente. Amarem o Pre­sente. In­sul­tarem o Pre­sente. Vi­verem as pai­xões, as lutas, os amores, a por­caria, as mo­lezas, as in­co­e­rên­cias, o nada e o fu­turo do Pre­sente.

 

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Um poeta maior

 

Vem isto a pro­pó­sito da po­esia de um poeta maior, poeta in­te­grante de uma ge­ração que con­se­guiu transpor os li­mites for­mais de um aca­de­mismo re­dutor e trans­portar a po­esia para o con­vívio largo das vastas pla­teias po­pu­lares sem, con­tudo, ceder ao fácil, ao óbvio, mas antes cons­truindo uma po­esia me­ta­fo­ri­ca­mente exi­gente, re­mo­çada nas suas cam­bi­antes po­li­fó­nicas, nos modos de ex­pressar o en­can­ta­mento, o sonho e o com­bate, tra­zendo, sem com­plexos, a po­esia de ex­tracção eru­dita para as ruas da ci­dade e dando-a para ser mu­si­cada e can­tada para que, dessa forma e se­guindo os mo­delos dos an­tigos jo­grais, o povo dela mais fa­cil­mente se pu­desse apossar. Falo, na­tu­ral­mente, de um poeta que há pouco, e a roçar os 90 anos de vida, nos deixou: Fran­cisco Viana. Muitos o can­taram, muitos ainda hoje o cantam e can­tarão no fu­turo – quantos, desses, no en­tanto, sa­berão o seu nome?

Fran­cisco Viana viveu como es­creveu: sem alardes, sem trom­betas, sem exi­bição me­diá­tica – em­bora grande parte do seu tra­balho se des­ti­nasse ao palco e às can­tigas. Esse re­co­lhi­mento, essa pos­tura de um con­ti­nuado e pro­fícuo tra­balho, não o im­pediu de criar uma poé­tica que, em­bora en­qua­drando-se, ide­o­lo­gi­ca­mente, nos re­fe­rentes de uma po­esia de re­sis­tência e de com­bate, também se sentiu atraída pelo dis­curso lí­rico, um li­rismo solar, li­berto de ar­ti­fi­ci­a­lismos, se­du­zido pelo jogo re­ve­lador das pa­la­vras, em que a amada, longe do serôdio ro­man­tismo que por aí ainda ve­geta, torna livre e vivo o que ama: De que noite de­mo­rada/​ou de que breve manhã/​vi­este tu, fei­ti­ceira/​de nu­vens des­lum­brada (...) De que fontes de que águas/​de que chão de que ho­ri­zontes/​de que neves de que frá­guas/​de que sedes de que montes/​de que norte de que lida/​de que de­serto de mortes/​vi­este tu fei­ti­ceira/​inundar-me de vida. Trata-se de um be­lís­simo poema no qual se expõe vagos traços de an­gústia, um tempo, uma mo­nódia exacta que marca esse ter­ri­tório dos afectos, da in­te­ri­o­ri­dade e dos cla­mores, da en­trega às se­du­ções do verbo (de que fogo re­nas­cido/​ou de que lume apa­gado), de um li­rismo que se in­sinua ao rés do texto, no seu mais laudo sen­tido, que diz a paixão li­gando-a à vida, ao seu mais alto es­tágio, ao mis­tério de ser: vi­este tu, fei­ti­ceira/​se­gredar-me ao ou­vido. A pa­lavra em Fran­cisco Viana não é um mero ar­ti­fício, antes se ela­bora a partir de uma ver­dade con­tida, só­bria mas sen­si­tiva, de um li­rismo que se oculta e ao mesmo tempo cresce no poema, o ganha por dentro, re­ve­lando um tempo dúctil e des­dra­ma­ti­zado, uma po­esia que trans­porta um rumor in­comum, que se in­sinua de­vagar até à se­dução, ao apego das pa­la­vras cer­teiras: De que sonho feito mar/​ou de que mal não so­nhado/​vi­este tu, fei­ti­ceira/​ani­nhar-te ao meu lado.

A po­esia de Fran­cisco Viana, mesmo a que teve como ob­jecto pri­meiro as can­tigas, si­na­liza al­guns dos có­digos ge­ra­ci­o­nais da nossa arte poé­tica, num con­certo que passa por al­guma ver­tente sur­ri­a­li­zante, que José Afonso também ex­pe­ri­mentou, vem do nosso neo-re­a­lismo e estua em delta largo nos po­etas re­ve­lados nos anos 70/​80 do sé­culo XX: José Jorge Le­tria, Hugo Santos, An­tónio Ca­bral, Fer­nando Grade, José An­tunes Ri­beiro. O certo é que a po­esia de Fran­cisco Viana, em­bora an­dando em voo ra­sante e sa­lutar por di­versas cor­rentes li­te­rá­rias, sendo igual­mente uma po­esia de de­núncia e em sin­tonia com o seu/​nosso tempo, não ex­pressa as frus­tra­ções de im­po­tência da arte pe­rante as in­jus­tiças do mundo, não se de­mite, não alinha o verbo pelas di­versas ca­pe­li­nhas do pronto-a-usar de eco ga­ran­tido nas ga­zetas da opi­nião em moda: é uma poé­tica que se as­sume na aná­lise, na forma (feita de vá­rias e con­sa­bidas in­fluên­cias, porque o autor não está só nesse com­bate nem des­co­briu a pól­vora), sagaz e ines­pe­rada quando in­veste sobre tudo quanto magoa o poeta e con­tribui para tornar ab­jecta a con­dição hu­mana, so­bre­tudo quando as pa­la­vras se er­guem para dizer da terra o tra­balho suado, o es­forço e a con­quista do pão de cada dia: Chão nosso,/​la­bo­tado/​pão-a-pão//​Dia-em-dia/​te da­remos/​a von­tade/​do nosso corpo ainda acor­ren­tado. Al­guns dirão deste poema, e de ou­tros afins, que estão fora de tempo, que fere as har­mo­nias, os con­sensos, a paz podre deste reino de la­craus, mas nós sa­bemos dos ca­mi­nhos ainda a per­correr, sa­bemos, como o sabia Fran­cisco Viana muito para além de 1976, que neste Chão Nosso, vi­vemos ainda acor­ren­tados sa­bendo, con­tudo, que um dia nos li­ber­ta­remos/​das ofensas que não per­do­amos. Que este es­paço que nos é comum, chão nosso/​des­ven­dado,/​sol-a-sol/​pelo fogo do arado, um dia per­ten­cerá ao povo hu­mi­lhado, ex­plo­rado e ofen­dido; que o tempo da bar­bárie cairá de podre, pe­re­cerá como pe­re­ceram os ti­ranos e pe­re­cerão os ti­ra­netes ac­tuais e de ti chão nosso/​se le­van­tará li­berto/​nas nossas mãos obreiras/​nosso pão de cada dia. Para nos dizer isto, a ex­tensa me­tá­fora deste nosso tempo e do tempo que virá, não he­sita o autor em uti­lizar pa­la­vras hoje tidas por in­co­muns face à de­riva mer­can­ti­lista e usu­rária, pa­la­vras que estão aí, vivas e ur­gentes a ferir, no clamor alto das ruas, o co­ração lorpa dos cí­nicos ins­ta­lados: ba­ta­lhar, se­meado, razão, arado, cravos, terra, pão (1)  pa­la­vras que se re­petem até nos do­erem, até im­pres­si­va­mente nos to­carem no mais fundo da nossa me­mória co­lec­tiva. As pa­la­vras, mesmo quando o ne­o­li­be­ra­lismo lhes tenta ex­purgar o sen­tido, ainda retêm no seu claro chão, peso, me­dida, es­pes­sura – o seu sig­ni­fi­cado ainda faz eco por muito que as queiram, atadas ao verniz do es­bulho, tornar inó­cuas.

 

Uma poé­tica feliz

 

A po­esia de Fran­cisco Viana é igual­mente feita de me­mó­rias: dos amigos, da fa­mília, das guerras, da cu­pidez – e de afectos, muitos, das so­li­da­ri­e­dades, das lutas, dos amores. E da festa po­pular, do baile e das mo­di­nhas, dos ima­gi­ná­rios mais fundos e pe­renes da nossa tra­dição dis­cur­siva, das lendas e dos contos de fada que vi­a­jaram sé­culos de som­bras até à fonte lím­pida deste canto: Sete ondas se noi­varam/​ao luar de sete praias/​Sete pu­nhais se afi­aram/​me­nina das sete saias//​Sete es­trelas se apa­garam/ sete-que-pena cho­raias/​Sete se­gredos con­taram/​Me­nina das sete saias. A fala de an­tanho e, no en­tanto, pró­xima, as modas po­pu­lares, o baile e a festa que as pa­la­vras urdem em sua des­me­sura in­tem­poral: Sete faunos con­tra­taram/​sete corvos e za­gaias(...)Sete prin­cesas to­param/​Com mais sete lindas aias(...) Sete vezes se en­can­taram/​no bosque das sete faias/​Sete so­nhos des­fo­lharam.

Ao ler os po­emas de Fran­cisco Viana re­cordo-me de um verso de Raul de Car­valho, re­fe­rindo-se a Álvaro de Campos – tudo aquilo era de­ma­siado meu para ser dele. E isto porque a po­esia de Fran­cisco Viana nos está pró­xima, é de ge­ração pelo que nela per­passa de ge­ne­roso e so­li­dário. Es­ti­vemos em se­me­lhantes bar­ri­cadas, be­bemos do mesmo vinho, so­fremos dores pró­ximas, de­sa­pegos, frus­tra­ções, ale­grias.

A poé­tica de Fran­cisco Viana, a que anda es­pa­lhada por dois li­vros e nu­me­rosas can­tigas, é uma poé­tica feliz, no sen­tido que aponta para a fe­li­ci­dade, para a utopia de manter, apesar dos pe­sares, vivos os signos da es­pe­rança. Uma po­esia assim, a um tempo lí­rica e sagaz, sen­sível e ar­guta, de­mo­li­dora mas também a fazer-se ao rés dos sen­tidos, das emo­ções pos­sí­veis, no cerne das pa­la­vras – uma po­esia que anuncia va­lores que não estão de todo em moda, que não dá di­vi­dendos ime­di­atos nem mo­bi­liza os men­tores da crí­tica ins­ta­lada –, po­esia con­tida e se­gura na mes­tria de ma­ni­pular o verbo, pai­rando num jogo se­dutor de re­ve­la­ções e ocul­ta­ções, ou seja, uma po­esia só pos­sível de acon­tecer quando se ama o Pre­sente e se sabe Cantá-lo. Dei­xando tes­te­mu­nhos do nosso tempo, para os dias que virão: Chão nosso/​da nossa ba­talha/​Glória, glória/​a quem o tra­balha.

(1) Aquilo a que muito in­te­lec­tu­al­zito da nossa praça chama, por vezes, «de­ma­gogia» e «pan­fle­ta­rismo» – em con­ver­gência, aliás, com am­plos sec­tores re­ac­ci­o­ná­rios – não é senão o re­flexo ar­tís­tico (um dos pos­sí­veis re­flexos ar­tís­ticos e nunca o único) – dos in­te­resses da classe ope­rária e dos seus ali­ados, for­mu­lados numa lin­guagem e num con­texto que, sem dú­vida, lhe per­mite re­forçar a sua di­mensão de ins­tru­mento ide­o­ló­gico. José Ba­rata Moura

In A Canção Po­lí­tica em Por­tugal, de José Jorge Le­tria – Ed. Ul­meiro

Bi­bli­o­grafia:

Álbuns de Tro­vante e Luís Re­presas
A Canção Po­lí­tica em Por­tugal, de José Jorge Le­tria – Ed. Ul­meiro
Zeca Afonso – As Voltas de Um An­da­rilho, de Vi­riato Teles – Ed. Ul­meiro
Co­menda de Fogo, de Edu­ardo Pitta, Ed. Cír­culo de Lei­tores
Raízes In­tem­po­rais, de Ellys – Ed. Fonte da Pa­lavra

 

Ce­le­bra­ções

Ce­le­brou Dona Ema seu ani­ver­sário na­ta­lício.

Santo & Santos, ban­queiros, o tri­gé­simo quinto ano 

[do ofício.

En­cerrou-se o em­prego para ce­le­brar a data do Poder.

Carlos e Branca ce­le­braram seu nó doi­rado

ainda firme, já um tanto em­po­ei­rado.

Clan­des­ti­na­mente, es­tra­lejou o fo­guete

a ce­le­brar o dia de que se querem es­quecer:

(a His­tória tem fo­lhas asas

que às vezes não podem poisar.)


Num âm­bito vi­gente de aga­salho

ce­le­brou-se o Con­trato Co­lec­tivo do Tra­balho:

qua­renta e cinco pá­ginas brancas,

oito ca­pí­tulos novos,

no­venta cláu­sulas gordas

e uns sa­lá­rios ne­gros, ve­lhos, ma­gros...

 

Fran­cisco Viana

 



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